sábado, 30 de agosto de 2008

"A síndrome de Ulisses", Santiago Gamboa



O primeiro contacto que tive com os livros deste escritor colombiano foi muito engraçado porque foi através de uma rede, semelhante à bookcrossing, mas a uma escala bem mais pequena, que foi impulsionada pela Professora Sara Cabral Fernandes na Escola Secundária Jaime Moniz. Na altura ela "passou-me" o livro A vida feliz do jovem Esteban que, tal como ela previra, acabei por devorar avidamente. Entretanto passei esse livro a outro leitor e espero que o livro ande por aí a cativar quem o lê.
Como normalmente acontece quando gosto muito de um livro de determinado autor, fiquei atenta aos novos títulos e foi assim que cheguei ao livro de que hoje falamos.

Tendo como cenário de fundo a cidade de Paris, o retrato não é no entanto o de uma Paris glamorosa ou da cidade luz. O que Santiago Gamboa aqui nos apresenta é a Paris dos emigrantes, uma cidade dura, por vezes muito cruel onde muitas vezes o dinheiro não chega para comer e onde se faz de tudo um pouco para sobreviver.

Nós, que chegamos pela porta das traseiras, tirados à sorte do lixo, vivíamos muito pior do que os insectos e os ratos. Não havia nada, ou quase nada, para nós, e por isso alimentávamo-nos de desejos absurdos. Todas as nossas frases começavam assim: «Quando for...» Um peruano da cantina universitária disse um dia: quando for rico deixarei de vos falar. Pouco depois surpreenderam-no a roubar num supermercado e foi preso. Tinha feito tudo bem, mas ao chegar à caixa a empregada olhou para ele e deu um grito de horror (podia mesmo qualificá-lo de «cinematográfico»), porque do cabelo escorriam gotas vermelhas. Tinha escondido duas embalagens de bifes debaixo do capuz do impermeável, mas deixou passar muito tempo e o sangue atravessou o plástico. A partir desse dia mudou a sua frase: quando for rico nadarei em sangue fresco. Soube por essa altura que o tinham fechado num hospício e nunca mais o voltei a ver.

Os personagens são muito distintos entre si e reflectem as muitas culturas que todos os dias povoam a cidade. Desde o protagonista, um jovem estudante colombiano que tem vários empregos (desde lavar pratos a dar aulas da espanhol) para se sustentar e continuar a estudar na prestigiada Sorbonne, passando por Jung um coreano que tenta juntar dinheiro para poder mandar vir a sua mulher, ainda Paula uma emigrante com todos os recursos ao seu alcance que vive de forma luxuosa para "viver a vida" antes de voltar para a Colômbia para um casamento de conveniência.

Neste livro há espaço para os amores e desamores, encontros e desencontros e muitos finais diferentes, uns mais felizes do que outros.

É uma escrita fácil de se acompanhar apesar de a história ser, por vezes, densa, levando-nos quase a sentir o desespero daqueles personagens, os seus anseios e também, algumas vezes, as suas alegrias.


2 comentários:

Alberto Velez Grilo disse...

Tive muita pena de ter perdido este programa.

Uma das vantagens do blogue é que sempre podemos saber a recomendação de leitura semanal, mesmo que não vejamos o programa...

PL disse...

Este livro é, de certa forma, uma resposta à sugestão de A vida feliz do jovem Esteban que, como digo aqui, li através de uma corrente de leitura, acabando por não ficar com o livro.
Qualquer um deles é muito bom e penso em breve aventurar-me num outro livro dele.

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