domingo, 30 de novembro de 2008

"Dora Bruder", Patrick Modiano

Este livro conta-nos o percurso do autor, Patrick Modiano, em busca de Dora Bruder. Quando vê um anúncio de jornal publicado em 1947, onde Ernest e Cecile procuram a sua filha Dora, Patrick, resolve investigar a história desta família. Descobre então que eram judeus, que viviam em Paris na Rue Ornano, e que com o registo orbigatório dos Judeus, acabaram por não declarar a filha, numa tentativa de conseguir deixá-la de fora das temíveis listas dos campos de concentração. 
Mas este passo acaba por levá-los a perderem o rasto da sua filha. Mais de 40 anos depois, Modiano descobre este anúncio e com a sua investigação vai seguindo os passos dados por Dora, que andou de colégio em colégio...
Uma história triste e que relembra o drama do Holocausto tal como foi, para milhões de pessoas. Um livro da colecção Pequenos Prazeres da editora Asa, que pode ser adquirido a preço azul, que é o preço reduzido da editora. Neste caso, apenas 2,5€. Vale bem a pena.

sábado, 22 de novembro de 2008

"O escafandro e a borboleta", Jean-Dominique Bauby

Este é um livro escrito na primeira pessoa, por Jean-Dominique Bauby que, aos 44 anos, vê a sua vida mudar por completo, passando da azáfama diária enquanto redactor da revista francesa Elle, para uma cama de hospital onde, mantendo toda a lucidez mental perde todos os movimentos físicos. Vítima do chamado Locked-in Syndrome, consegue apenas respirar e comer por meios artificiais, conseguindo apenas mover a pálpebra do olho esquerdo. É assim que comunica, piscando o olho uma vez para dizer que sim, duas vezes para dizer que não.

É desta forma que vai escrevendo este livro, com a ajuda da sua terapeuta da fala que vai interpretando os seus piscares de olho de acordo com um alfabeto criado por ordem com as letras mais usadas na língua francesa.

Através deste livro Bauby revisita o seu passado, os locais que visitou, as pessoas que conheceu, as decisões que tomou. É uma lição de vida, vinda de alguém que ao ver a vida escapar-lhe por entre os dedos, resolve não acomodar-se e persistir no sonho de ali escrever um livro.

Muito conhecido é o filme baseado neste livro, que ganhou diversos prémios em Cannes e esteve mesmo nomeado para 4 Óscars.


domingo, 16 de novembro de 2008

"A canção de Doroteia", Rosa Regas

Chamava-se Adelita.Era uma mulher tão baixa que nem sequer na raras ocasiões em que usava sapatos de saltos altos, sobre os quais se equilibrava incómoda ainda que segura erguia acima do solo mais de um metro e meio.
Esta é a descrição de Adelita, personagem central deste romance da espanhola Rosa Regas que venceu o conceituado Prémio Planeta.
Este livro conta uma história algo estranha, surreal quase mas que cativa e confunde o leitor numa narrativa fluída que prende a atenção da primeira à última página.

O cenário é uma pequena vila perto de Barcelona. A história desenrola-se sobre o pano de fundo de uma herdade:a Casa do Moinho.Tudo começa com a chegada de Adelita, a criada que se muda com a família para a pequena casa anexa à herdade. Uma pessoa que encerra em si mesma tantos segredos como surpresas, que se desfolham a cada página, a cada capítulo.

domingo, 9 de novembro de 2008

"O outro pé da sereia", Mia Couto

Este livro do escritor moçambicano Mia Couto é um desafio à imaginação do leitor. São personagens e histórias que quase parecem irreais mas que poderiam muito bem acontecer numa realidade não muito distante daquela que conhecemos.

São diversas viagens que se cruzam neste romance:a de D. Gonçalo da Silveira, a de Mwadia Malunga e a de um casal de afro-americanos. O missionário português persegue o inatingível sonho de um continente convertido, a jovem Mwadia cumpre o impossível regresso à infância e os afro-americanos seguem a miragem do reencontro com um lugar encantado.


Outras personagens atravessam séculos e distâncias: o escravo Nimi, à procura das areias brancas da sua roubada origem. A própria estátua de Nossa Senhora, viajando de Goa para África, transita da religião dos céus para o sagrado das águas. E toda uma aldeia chamada Vila Longe atravessa os territórios do sonho, para além das fronteiras da geografia e da vida.

domingo, 2 de novembro de 2008

"Quem ama não dorme", Robert Schneider.

Eis a história do músico Johannes Elias Alder que aos vinte e dois anos de idade pôs termo à vida após tomar a decisão de nunca mais dormir.

Este é o primeiro parágrafo deste livro que conta uma estranha forma de vida e de amar. É uma história de acreditar mas também de desistir. Ao longo deste livro seguimos os passos de Johanes Elias Alder que nasceu diferente, com uns olhos amarelos reluzentes que assustavam a população da aldeia que viam nele um qualquer personagem maléfico.

Não havia como escapar,o destino de Elias estava traçado desde o momento em que os seus olhos amarelos viram o mundo.
Mas a vida trouxe a Elias um talento escondido que se foi revelando nas entradas escondidas na Igreja da aldeia para conhecer órgão, para o sentir nas pontas dos seus dedos, para o tocar como ninguém.É quase uma tentativa de contrariar um destino que se sabe já traçado….
A viagem para a cidade, as provas de música prestadas sob o olhar invejoso dos colegas, com a atenção desdenhosa dos professores. Quase como, por mais que fizesse, por mais que tentasse o seu destino fosse tão certo como o amor que sentia por Elsbeth. Quando tocava, era nela que

Ele olhou-a, os olhos escapando-se para os lábios secos e mais abaixo, o corpete atado em cruz sob o qual se desenhavam os pequenos seios. Elias envergonhou-se da impudícia do seu olhar e queria fechar os olhos que porém não lhe obedeciam. Ao contemplar as mão pálidas da rapariga que repousavam impacientes no regaço, o olhar deslizou mais abaixo, para o joelho nu que a bainha da saia aberta mostrava:Queria ele ser um bom e honesto marido para elsbeth!
E se Deus e os santos lhe dessem força para tal não a cobiçaria enquanto vivesse. Queria mostrar-lhe que o verdadeiro amor não busca a carne mas entrega-se totalmente ao espírito.

Mas nenhum destes sonhos de Elias se tornou realidade e assim tomou a decisão de não mais fechar os olhos, como se acreditasse que assim conseguiria fugir do seu destino.

Este foi o primeiro romance deste escritor austríaco que foi unanimemente apreciado pela crítica literária.

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