sábado, 27 de setembro de 2008

Já não se escrevem cartas de amor, Mário Zambujal


Neste livro que se lê com uma facilidade extraordinária, Mário Zambujal segue os passos de Duarte, um jovem bon vivant, que, entre as noites glamorosas passadas no Grande Casino Internacional do Estoril, as tardes de café no Chave D’Ouro, no Palladium ou no Martinho do Rossio e a vida boémia nas boîtes da capital vai contando amizades, amores e desamores ao mesmo tempo que vai retratando a vida em Lisboa (mas não só) na década de 50.

A narrativa decorre num espaço temporal de aproximadamente 5 horas, durante as quais Duarte, já com 70 anos, enquanto espera que a mulher regresse a casa, vai recordando episódios da sua juventude.

A certa altura, decidi que não poderia passar a noite parado como um legume, apelei à poca coragem e disse para mim próprio: "Seja o que Deus e Erika quiserem".

Apaixonado perdidamente por Erika, uma jovem austríaca, Duarte cedo de apercebe de que a vida nem sempre nos dá o que queremos e enquanto persegue a sua felicidade vai presenteando o leitor com episódios característicos da juventude.

Excepto alguns apetites por teatros e cinemas, as noites de Lisboa já não são minhas, repelem-me como como a um corpo estranho. Desapareceram quase todas as boîtes, os grandes cafés, que não se mascaravam de restaurantes, nas horas da refeições, os próprios cinemas da minha intimidade.
Pior que os lugares, foram-se esfumando os conhecimentos. De longe em longe encontro algum velho empregado de mesa que faz uma festa e pergunta por gente que não se onde pára.

Vivia-se então uma época de apetites e excessos. De paixões e desventuras. Era um tempo em que havia tempo. Até se escreviam cartas de amor.

Sem comentários:

Arquivo do blogue